Por que se fala tanto do golpe militar de 1964 na atual conjuntura?

  • Sonia Regina Martins IFSP

Resumo

O presente artigo foi escrito no contexto do golpe de 2016 que ocasionou o impeachment da presidenta Dilma, quando então, vários estudiosos, pesquisadores, intelectuais e estudantes procuravam as semelhanças com o golpe militar/civil de 1964. Nesse sentido, ele pretende contribuir com essa discussão, traçando um panorama dos contextos econômicos, políticos e sociais dos dois momentos, apontando muitas semelhanças que justificaram, do ponto de vista das classes dominantes, a interrupção de processos democráticos nas duas situações históricas. A despeito das muitas diferenças entre o golpe de 1964 e o golpe de 2016, devido ao longo período transcorrido entre um fato e outro, a essência de uma sociedade extremamente desigual constitui o ponto de continuidade entre as duas situações. Formada por uma elite concentradora de riquezas, por um capitalismo plutocrático, por uma classe trabalhadora precarizada pelos baixos salários, pelo desemprego, pelas condições de trabalho e pela iniquidade do acesso aos bens e serviços coletivos, essa sociedade preserva as mesmas características anteriores. Outro aspecto comum dos dois momentos, paira sobre o pensamento das elites dominantes o mesmo temor de que seus privilégios sejam ameaçados por uma ruptura histórica através de governos populares ou de manifestações políticas da população reivindicando transformações sociais. Quando essa ameaça chega mais perto, as elites lançam mão desse dispositivo que é desmoralização dos governos democráticos e populares e na sequência a interrupção da via política democrática e a implementação de mecanismos autoritários que impedem a emergência de outros projetos de sociedade, seja o nacional-desenvolvimentismo do período anterior ao golpe, seja o neo-desenvolvimentismo dos governos petistas.  

Publicado
2020-05-19